Mesmo que seja um meio importante para inclusão social, a prática do esporte para pessoas com deficiência sofre com mais do que apenas a falta de reconhecimento do público. Apesar da existência de políticas públicas, há insuficiência de recursos. O paratleta do Goalball Allesson Albuquerque ressalta que é difícil iniciar a carreira no ramo para pessoas com deficiência. O medalhista relembra que, na sua iniciação como atleta, dependeu muito do uso de materiais esportivos emprestados de colegas veteranos.
São poucos os esportistas que recebem apoio organizacional para dar continuidade à carreira. O baixo investimento nos esportes paralímpicos resulta, muitas vezes, no abandono generalizado de atletas. Isso porque, sem recursos, eles precisam arcar com os custos dos materiais, suplementações e treinamentos. É o que destaca o paratleta Carlos da Silva, ao explicar que recebem o Bolsa Atleta do Governo Federal apenas os três primeiros colocados de cada classe nas competições registradas pelas entidades nacionais dos esportes em questão ou os ganhadores de eventos máximos das categorias.
Em sua primeira competição, Carlos ficou em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro de Atletismo, com apenas dois anos de experiência. A maioria dos atletas não alcança o mesmo desempenho ou tem perspectiva de crescimento tão acelerado, o que dificulta receber o amparo financeiro. Segundo dados do Ministério do Esporte, em 2022, apenas 26 pessoas com deficiência no Recife receberam o auxílio. Essa situação também reforça a desigualdade de classe existente entre paratletas, já que apenas aqueles com rendas melhores ou performances extraordinárias desde o início da carreira conseguem continuar no esporte.
Há desigualdade até mesmo entre os tipos de atividades realizadas. Durante os Jogos Paralímpicos Recife Open 2024, o treinador Ismael Marques pontuou que, por conta da falta de investimento, muitos esportes tinham menor presença nessas competições. Como o atletismo é mais barato para distribuição de dinheiro, existiam mais participantes nessa categoria.
Manoel Cavalcanti, presidente da Associação dos Deficientes [sic] Físicos de Pernambuco (Adefepe) e também treinador do time de basquete em cadeira de rodas da organização, afirma que o grupo tem dificuldade de acessar materiais esportivos. Como as cadeiras de rodas para o esporte são caras, os próprios integrantes se encarregam de auxiliar nos consertos das ferramentas. Manoel, que também atua no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comud-Recife), tenta conseguir auxílio de órgãos da Prefeitura do Recife para ajudar na manutenção do time.
O líder da associação criou um projeto de incentivo à prática do Basquete sobre Rodas intitulado “Basquete em Cadeira de Rodas: Treinando para a Vida”. No material enviado para o Executivo Municipal, o objetivo é incentivar o desenvolvimento dos paratletas da categoria para a Paralimpíada de 2024 ao fornecer o espaço do Ginásio Poliesportivo do Instituto Estadual de Educação (IEE) para os treinos de basquete. Além de propor a capacitação dos atletas, o plano visa realizar uma Copa Metropolitana de Basquete sobre Rodas, uma nova competição regional para incentivar a prática do esporte. Segundo Manoel, o material foi recebido pela Prefeitura, que apontou não ter recursos no momento para viabilizar a ação. Com o objetivo de tentar novos apoios, a associação apresentou o texto para alguns membros da Câmara de Vereadores do Recife. A Prefeitura do Recife foi questionada sobre o motivo para recusar o projeto, mas não se pronunciou.